sexta-feira, maio 18, 2007

Cinema

“O bom do cinema é que nele você pode fazer o que quiser”

Por Luciana Menezes
do Feira-Livre


Será mesmo? É com essa frase do personagem Everardo, do ator Matheus Nachtergaele, que o filme Baixio das Bestas, do diretor pernambucano Claudio Assis, se explica por completo. Assis é conhecido internacionalmente devido ao seu primeiro filme, Amarelo Manga, que chocou a todos ao mostrar a violência e o sexo cruamente e conquistou muitos prêmios, entre eles o Festival de Berlim em 2003 e o Festival de Brasilia de 2002. Em Baixios, ele conseguiu chocar ainda mais.


Fui assistir ao filme receosa por ser um filme de Claudio Assis, mas fui “desarmada”. Tinha ouvido diversas opiniões, apenas uma boa, e todas as outras ruins. Um amigo que trabalhou nas filmagens e na captação de aúdio falou muito bem e pediu que fosse assistir ao filme, deixando claro que era forte. Uma outra amiga me assustou, disse que o filme era super violento e que era uma verdadeira agressão à mulher.

Domingo, 18h, Cinema da Fundação, sala lotada. Todos a espera da mais nova bomba de Assis. Baixio impactou o público no Festival de Brasilia deste ano, mas foi merecedor de 6 prêmios: melhor filme, melhor filme da crítica, atriz, ator coadjuvante, atriz coadjuvante e melhor trilha sonora. O longa começa e logo na primeira cena vê-se o corpo nu de uma menina, à mostra como um pedaço de carne em uma vitrine e vários homens ao seu redor, como se fossem lobos à espera do ataque. Depois desse momento, começa a “sessão agressão”. Mulheres sendo estupradas, agredidas por pontapés e palavras. Os responsáveis são denominados “agroboys”, os playboys do Agreste. Eles estupram, bebem, usam drogas, fazem rachas, atropelam e depois comemoram em um cinema abandonado, o quartel general. A aridez do canavial só é aliviada um pouco, com a musicalidade do Maracatu Rural.


Baixio das Bestas, me causou ansia, tive “agonias” o tempo inteiro, virando o rosto pra não ver cenas que me machucavam intensamente. Enfim, é mais um filme nordestinos que só explora pobreza, miséria e sexo. Só temos isso? Todos os nordestinos são pobres e agridem suas mulheres? Claro que não podemos fechar os olhos e negar o que ainda acontece, mas se nossos filmes só representarem desgraça, nunca conseguiremos mudar o esteriótipo de que somos uma subraça. Então termino como comecei. Será que o bom do cinema é que nele podemos fazer o que quiser?



Vídeo: Divulgação

Edição: Bruna Damaso

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