segunda-feira, novembro 20, 2006

A atração das pessoas pelo serviço público




Por Renata Silveira
Do Feira-Livre


Conquistar uma vaga sem depender de análises de currículos, entrevistas ou indicações, só mesmo através de concurso público. Para isso, estudar é a solução para quem busca uma oportunidade de emprego. Os cursinhos preparatórios, cada vez mais lotados, mostram que cresce a procura por carreiras neste setor.

A concorrência é enorme. Somente as quatro maiores empresas organizadoras de concursos públicos no Brasil receberam, nos últimos cinco anos, mais de 20 milhões de inscrições.

As provas são difíceis. Quem se habilita a fazer concurso como se fosse uma loteria, entrando com a sorte e fazendo promessa para ver se passa, pode desistir: esse método não funciona mais. Os professores de cursinhos preparatórios admitem que é mais fácil ganhar na mega-sena.

O interesse pelos concursos aumentou quando as oportunidades na iniciativa privada começaram a se tornar escassas. A estabilidade do contra-cheque líquido e certo no fim do mês, deixa a competição por uma vaga acirrada. Apenas os mais talentosos conseguem passar e chegam para somar à estruturação da máquina pública.

Competição acirrada

A cidade de Floriano, a 250 quilômetros de Teresina, está realizando o maior concurso público já feito pela prefeitura. A primeira fase do concurso é para quem tem o ensino básico. São 4.232 candidatos para 243 vagas. O salário médio de R$ 400 é o principal atrativo para quem quer ser gari, operador de máquina ou auxiliar de escritório.

Em Macaé, litoral norte do estado do Rio de Janeiro, estão instaladas as plataformas de petróleo que sustentam a cidade e a região. Em 20 anos, a população triplicou. Em dez anos, 4 mil empresas se instalaram na cidade, gerando 25 mil novos empregos. Porém, a grande aspiração de quem busca um lugar ao sol em Macaé é chegar ao topo da cadeia produtiva do petróleo. E aí só com concurso da Petrobrás, que quer dizer: salário bom, estabilidade e segurança.

Em Santa Cruz do Sul, no Rio Grande do Sul, foram 16 mil inscritos no concurso para apenas 440 vagas. São carreiras de nível médio e de nível superior. Muitos topam até mesmo mudar de profissão.

Visão do setor

As opiniões sobre o serviço público são distintas, mas a grande maioria acredita que é uma ‘mamata’. É comum ouvir frases do tipo “você trabalha pouco e ganha bem”, porém quem já está no setor sabe bem que as coisas não são assim.

O Diretor da Delegacia Sindical dos Auditores Fiscais da Receita Federal, José Maria Miranda Luna, trabalha na Receita Federal há 24 anos. Passou doze anos na Delegacia Federal em Caruaru e onze anos e meio na Delegacia da Receita Federal de Julgamento de Recife. Ele afirma que escolheu o serviço público porque vislumbrou a oportunidade de servir ao Estado brasileiro e ao interesse público. “O trabalho na Receita Federal me pareceu interessante por ser algo útil à sociedade, além de ser estimulante por sua complexidade e pela responsabilidade envolvida”.

Luna fez o concurso em 1981 para o cargo de controlador da Arrecadação Federal, posteriormente transformado em Auditor-Fiscal do Tesouro Nacional e hoje Auditor-Fiscal da Receita Federal. A segunda parte do concurso (treinamento), no entanto, somente ocorreu entre abril e agosto de 1982.

Sobre as pessoas que acreditam que o setor público é uma vida boa, Luna opina: “As pessoas que pensam assim estão completamente enganadas. Há sempre muito serviço a ser feito e o número de funcionários é inferior às necessidades, o que leva, quase sempre, à sobrecarga dos servidores”.

Os Auditores-Fiscais da Receita Federal são exemplos que o serviço público tem muito trabalho. Responsáveis pela fiscalização de mais de uma dezena de tributos e pelo controle aduaneiro, dentre outras tarefas, lidam com uma legislação complexa e que muda freqüentemente. Além disso, enfrentam organizações criminosas e são muitos os casos de colegas assassinados ou submetidos a violências.

“Apesar disto tudo, continuamos fazendo o nosso trabalho. Muitas vezes, faltam condições para que possamos fazer um trabalho ainda melhor. Se existe mamata no serviço público, isto só pode ser atribuído à má gestão de alguns órgãos, cujos administradores são escolhidos por critérios políticos e não técnicos”.

Um comentário:

Manuela Allain Davidson disse...

Renata, seu post é forte, interessante e sério. Gostei. Editorialmente falando, eu daria outro título para a matéria. Algo que deixasse claro o vínculo com CONCURSOS ao invés de dar ênfase ao serviço público. O principal motivo dos concursos serem tão disputados, como você bem lembrou, é que uma vez garantida a vaga você tem estabilidade de emprego - coisa que não se encontra fora da esfera pública.

Também notei alguns erros de português (mau uso de vírgula, ausência de crase, problemas de regência e concordância) que deverão demandar mais atenção sua no futuro.

Senti falta de informações sobre PERNAMBUCO na parte em que você fala sobre a COMPETIÇÃO ACIRRADA. É verdade que uma vez na Web você está virtualmente falando para o mundo, mas como conteudista não se deve nunca esquecer do seu referencial de origem. No mais, tudo bem. :)