sexta-feira, junho 08, 2007

Crônica

Jornalista, lobo mau?
Lobo sim. Mau não

Por Thaís Leão
Do Feira Livre


Certo dia na redação de um jornal do recife adentrou uma menina cujo chapéu era vermelho cor de carne, aparentando um ar um tanto quanto assustado, olhando para todos os lados, foi caminhando sem direção até chegar a uma sala ao final do corredor, abriu a porta delicadamente e deu de cara com o editor-chefe, então não tardou a afirmar:

- Que olhos grandes você têm. – a resposta veio logo em seguida.
- São para enxergar melhor. – respondeu o editor.
- Que orelhas grandes você têm. – prosseguiu a menina.
- São para ouvir melhor. – novamente respondeu o editor.
- Que boca grande você têm. – insistiu a menina.
Já sem um pingo de paciência, o editor levantou, chegou próximo da menina e respondeu:
- Olha aqui menina, nós estamos atentos a tudo e a todos, aprendemos a ouvir muito bem todos os lados de uma história, e logicamente contamos tudo o que para nós chamamos de notícia. Mas a isso damos o nome de JORNALISTA e não lobo mau!!!


Ser jornalista nunca foi sinônimo de vida tranqüila, pelo contrário, a profissão necessita de pré-requisitos básicos: Agilidade, atenção redobrada, paciência, ouvidos apurados, um texto incrivelmente impecável, entre outras coisinhas básicas (tudo bem, isso pode parecer exagero para muitos, mas o dia-a-dia numa movimentada redação, nos prova o contrário). Perseguidos pela ditadura, enfrentaram algo chamado censura, aprenderam a duras penas o significado da palavra sacrifício pelo ofício e utilizaram um artifício muito conhecido dos poetas românticos, o pseudônimo. Ser jornalista é aprender a olhar a vida além do que ela se apresenta, é aprender a ouvir melhor do que um tuberculoso (sem ofensas), é aprender a ser os olhos e os ouvidos de uma população sedenta por informação. Ser jornalista é ir além das suas possibilidades, é passar noites sem dormir, é arriscar tudo pelo simples prazer de contar, é em alguns casos arriscar a própria vida (que o diga, Tim Lopes). Mas acima de tudo é aprender que entre a ética e a uma notícia bombástica, existe um ser superior, o leitor-ouvinte-telespectador, que merece o devido respeito. Se apesar de todas as informações acima citadas, ainda assim formos comparados a uma alcatéia, o único argumento do qual poderemos nos utilizar é: “se não pode com eles, junte-se a eles”.Somos lobos sim, mas passamos longe de ser mau.

Um comentário:

Unknown disse...

puxa que crônica massa. sabe que certa vez na graduação, a disciplina era redação jornalística IV, a profê nos propôs este mesmo tema e nem de longe tivemos um texto tão bom como o seu? nem o meu inclusive. hehehe. parabéns menina !!